Famílias e Relacionamentos

domingo, 28 de novembro de 2021

 

Instruções Práticas Sobre Interpretação de Textos Bíblicos

Parte 2 – Final

Em se tratando de interpretações textuais, temos muito a considerar, por exemplo, uma verdade não deixa de ser verdade por está sendo dita por um mentiroso, e claro que temos que considerar o hábito de mentir de quem está supostamente dizendo tal verdade. Da mesma forma, uma mentira não deixa de ser mentira por está sendo dita por quem aparentemente, e digo “aparentemente”, pois uma pessoa pode estar enganada sem saber; por quem é correto, de bom caráter, ou seja, por quem não é mentiroso, ela, a mentira, continuará sendo uma mentira, embora só possa existir, diante de uma verdade, já esta, a verdade, ela existe por si só, por sua condição de realidade e existência.

 

Aqui temos que considerar e entender outra coisa, que a verdade, apesar de só poder ser propagada através de alguém, mas ela por si mesma não precisa de ninguém para existir, ela existe por si só, e claro que se considerarmos que naturalmente falando, a mentira só passa a existir, em função de um fato, situação ou algo existente, sendo e tendo esta uma distorção da condição existente, ou seja, da verdade e existência que a envolve. Considerando isto, a posteriori, só há possibilidade de existência de uma mentira, em função da distorção de uma verdade, ou seja, é necessário da atuação de alguém para que ela, a mentira exista, pois necessariamente esta condição só poderá existir com a distorção da verdade e para tal, há necessariamente que alguém perverta a verdade, mas esta sim, pela natureza de sua realidade e condição de existência, por si só, existe enquanto verdade, e neste sentido, até a própria mentira para existir convém a existência da verdade, que é naturalmente por sua natureza precípua; principal e natural daquilo que existe, mesmo que não se possa facilmente provar... Um bom exemplo disso é o pensamento. Sabemos que pensamos, e portanto, por causa de nossa existência como seres racionais, podemos afirmar tal condição e podemos afirmar esta verdade de forma racional, assertiva e inquestionável. Descartes coloca esta situação ou condição, da seguinte forma, ou seja, para Descartes, que protagonizou a eterna frase: “Penso, logo existo”... ele coloca a razão humana como única forma de existência, neste sentido, Descartes entendeu que ao duvidar, ele estava pensando, e por estar pensando, necessariamente ele existia. Para descarte, ele só não poderia duvidar da própria dúvida, pois não fazia sentido algum e neste sentido e contexto, deduziu sua existência de forma que não haveria controvérsias na afirmativa...

 

Ainda neste contexto, Antoine Léonard Thomas (1732-1785), poeta e crítico literário francês, na Académie Française, em um ensaio premiado de 1765 em louvor a René Descartes, reformulou o enunciado da seguinte forma: "Puisque je doute, je pense; puisque je pense, j'existe" ("Já que eu duvido, eu acho; já que eu penso, eu existo").

 

Bom, o que tiramos desta afirmativa e em relação a nosso assunto em questão, “Interpretação Textual” ou, “Práticas Interpretativas”, é que, para se sustentar uma verdade, só precisamos provar que a mesma existe e pela racionalidade, pois ela por si só se reafirma, já uma mentira necessariamente só poderá existir com a distorção de uma realidade e ou verdade!

 

A frase formulada por Descartes, que virou um ícone: “Penso, logo existo”, marca o pensamento Iluminista, onde a razão humana é a única forma de existência... Descartes categórica e sabiamente entendeu que ao duvidar, estava pensando, e por estar pensando, consequentemente, ele existia.

 

René Descartes (1596-1650), filósofo e matemático, e assim considerado o fundador da filosofia moderna, em sua busca pelo “verdadeiro conhecimento”, àquele conceito absoluto e irrefutável da verdade, e neste sentido, ele passou a duvidar de tudo, inclusive de sua própria existência, até se deparar com sua dúvida reveladora, daí concluiu que sua existência poderia ser provado em sua própria dúvida, desta forma ele concluiu e seus pensamentos se constituiu no que passou a ser a frase primordial de seu pensamento em relação a existência: “Penso, logo existo”, e isto é irrefutável e inquestionável, isto de acordo com seus pensamentos e fica implícito pela condição da verdade sobre o assunto em questão, a existência...

 

Outra coisa a considerarmos aqui, é justamente as questões de falácias, ou seja, a pessoa pode estar enganada no que defende, e aqui entra em cena as questões cognitivas e volitivas, ou seja, os enganos; os engodos e as decisões que tomados passeados justamente nestes engodos e ou em uma verdade. Da mesma forma temos que considerar as questões sofistas, ou seja, as pessoas ou alguém, pode ter verdadeiramente a intenção de enganar, de ludibriar para poder atingir algum objetivo, seja este qual for, e aqui é que entra em cena determinadas ideologias.

 

Aqui é bom salientarmos também, que de acordo com Platão em sua dialética, é possível a concepção de algo ou de algum conceito em dois ou mais, os quais geralmente contrários e complementares, a exemplo de, ideias e ou pensamentos: bons e ruins; seres humanos: homens e mulheres; tempo: passado, presente e futuro. É justamente neste contexto que entra em cena a lógica em relação a algum conceito, na verdade, a lógica está implícita, quando consideramos que temos que definir algo ou o próprio conceito em si; e este algo pode ser dividido em dois ou mais conceitos, em geral contrários ou complementares, que se definem em toda sua extensão de conhecimento, a exemplo de animal: vertebrado e invertebrado; preto/branco; sol/lua, etc.

 

Aqui temos mais uma consideração a fazer. Diferentemente do que alguns pensam, e ainda hoje, os modelos de análises argumentativas não é um acordo entre interlocutores, como sugere indiretamente Habermas, e isto fica claro em seu conceito de “Ética do Discurso”, em que ao fundamentar-se na teoria da “Ação Comunicativa” racional e intersubjetiva e que quando na escolha de valores deixa de fora a razão, mas em função de uma suposta razão comunicativa entre sujeitos que cooperam entre si em busca da verdade, e que supostamente utiliza-se de normas racionais e validáveis, mas ele mesmo, Habermas, menospreza por completo a razão, e neste sentido, quando se tira a razão de um processo comunicativo, questões cognitivas sérias passam a existir, ou seja, não apenas a interpretação, mas o entendimento passa a ser comprometido. Vejam o que Habermas diz em relação a razão:

 

A razão é calculadora. Ela pode avaliar verdades de fato e relações matemáticas e nada mais. No âmbito da prática, só pode falar de meios. Sobre os fins, ela tem que se calar.”
Habermas (Consciência Moral e Agir Comunicativo, 1989, Págs. 61-62).

 

Neste sentido, o “toma lá dá cá” fica implícito, quando a razão dar lugar a uma suposta razão comunicativa entre sujeitos, mas que na verdade, a própria verdade fica comprometida em função de um simples acordo. Ora, um acordo supõe deixar de lado alguns direitos para que se obtenha um final de questão, conduta ou discussão, o que não necessariamente quer dizer que a verdade seja ou tenha sido considerada a ponto de fazer a mesma prevalecer. Um exemplo prático e simples neste sentido, vemos no Direito, por exemplo, quando em uma ação jurídica, para que não se prolongue mais a ação se faz um acordo, mas para que se tenha um, alguém ou ambas as partes terão que abrir mão de algum direito e mesmo que ambos abram mão em função de uma rápida solução, a verdade é que alguém ou ambos abriram mão de alguns de seus direitos e está é uma nova realidade e neste sentido se constitui em uma nova verdade, mas não essencialmente falando, pois a essência, diz respeito aos direitos negados, caso não fosse, não haveria uma ação judicial, portanto, neste sentido, a verdade não deixou de existir ou de se transformar em outra verdade simplesmente, mas a verdade primária foi deixada de lado, para que fosse construída uma nova verdade, que em relação à primeira é subjetiva, portanto, não é absoluta como a primeira em toda sua existência e consequentemente em toda sua essência...

 

Neste sentido, Perelman diz que há uma relação estreita entre a qualidade dos espectadores e a qualidade da argumentação; e isto é lógico, pois a forma como vemos ou entendemos algo, depende e muito do grau de instrução de quem participa ou assiste a uma retórica. Ainda neste sentido, Aristóteles pensa um tanto quanto diferente, para ele, quanto mais científico for um discurso, mais ele afasta-se da retórica, exceto quando direcionado aos princípios de uma disciplina... o que de certa forma é controverso o pensamento de Aristóteles, mas não necessariamente, pois há divergências de opiniões em diversas áreas científicas, embora em alguns casos, não há como discordar da ciência, o que prevalece o pensamento de Aristóteles...

 

Neste contexto, de acordo com o entendimento da Dra. Maysa de Pádua; Doutora em Linguística e Língua Portuguesa - PUC-MINAS. Pós-doutoranda na Universidade Federal de Ouro Preto - UFOP., a argumentação existe, mas desde que o discurso não seja reduzida a um cálculo; o que contraria sabiamente a teoria de Habermas pelo menosprezo que a mesma dá a razão. Bom, ainda de acordo com Perelman, em se tratando de algo específico, especializado, principalmente ao tratar de questões Científicas, de Direito ou Religiosas, ou até mesmo de determinadas ideologias, é imprescindível que se conheça toda a essência destas áreas, as aspirações que de alguma forma compôs as mesmas, as regras existentes, dentre outras implicações mais... (Perelman, 1987).

 

Ao considerarmos tudo isto, concluímos que as questões interpretativas vai além de se defender uma verdade, mas de lidarmos com a perversão e ou distorção da mesma no sentido de se tentar a todo custo defender uma suposta verdade, onde na verdade, uma ideologia escusa, com interesses escusos e geralmente nocivos a toda uma sociedade. E neste sentido, não apenas as falácias, mas os sofismas entram em cena como forma de argumentar para se conseguir atingir determinados objetivos, e aqui é onde mora todo o problema, principalmente em se tratando de questões Bíblicas.

 

Referências:

 

René Descartes. Discours de la Méthode / "O Discurso do Método", 1637, Leiden, Holanda


The Edinburgh Review for July, 1890 … October, 1890 . Leonard

 

Bohemia, Princess Elisabeth of; Descartes, René (2007-11-01


Descartes . University of Chicago Press. ISBN 978-0-226-20444

 

Cardoso, Flora Rocha. A teoria das virtudes de Alasdair MacIntyre [manuscrito] / Flora Rocha Cardoso. – 2010. 142f. Orientadora: Telma de Souza Birchal, Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas. 1. MacIntyre, Alasdair C. – Teses. 2. Filosofia – Teses 3. Ética moderna – Teses.4. Virtude – Teses. I. Birchal, Telma de Souza. II. Universidade Federal de Minas Gerais. Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas. III. Título.

 

Habermas, Jürgen. Consciência Moral e Agir Comunicativo / Jürgen Habermas; tradução de Guido A. de Almeida. – Rio de janeiro: Tempo Brasileiro, 1989. …p. (Biblioteca Tempo Universitário nº. 84. Estudos Alemães). Tradução de: Moralbewusstsein und kommunikatives Handeln. 1. Filosofia 2. Epistemologia – Ciências Sociais. I. Título II. Série. ISBN: 85-2282-0008-6, CDU 165. Ficha catalográfica elaborada pela Equipe de Pesquisa da ORDECC

 

PAULINELLI, Maysa de Pádua Teixeira. Retórica, argumentação e discurso em retrospectiva. Linguagem em (Dis)curso – LemD, Tubarão, SC, v. 14, n. 2, maio/ago. 2014

 

Considerações a uma Ideologia! – VII

O Tolo Travestido de Intelectual

Por: Rogério Silva

19 de novembro de 2020

https://rogeriorsf.wordpress.com/2020/11/19/consideracoes-a-uma-ideologia-vii/