Instruções Práticas Sobre Interpretação de Textos
Bíblicos
Parte 2 – Final
Aqui temos que considerar e entender outra
coisa, que a verdade, apesar de só poder ser propagada através de alguém, mas
ela por si mesma não precisa de ninguém para existir, ela existe por si só, e
claro que se considerarmos que naturalmente falando, a mentira só passa a
existir, em função de um fato, situação ou algo existente, sendo e tendo esta
uma distorção da condição existente, ou seja, da verdade e existência que a
envolve. Considerando isto, a posteriori, só há possibilidade de existência de
uma mentira, em função da distorção de uma verdade, ou seja, é necessário da
atuação de alguém para que ela, a mentira exista, pois necessariamente esta
condição só poderá existir com a distorção da verdade e para tal, há
necessariamente que alguém perverta a verdade, mas esta sim, pela natureza de
sua realidade e condição de existência, por si só, existe enquanto verdade, e
neste sentido, até a própria mentira para existir convém a existência da
verdade, que é naturalmente por sua natureza precípua; principal e natural
daquilo que existe, mesmo que não se possa facilmente provar... Um bom exemplo
disso é o pensamento. Sabemos que pensamos, e portanto, por causa de nossa existência
como seres racionais, podemos afirmar tal condição e podemos afirmar esta
verdade de forma racional, assertiva e inquestionável. Descartes coloca esta
situação ou condição, da seguinte forma, ou seja, para Descartes, que
protagonizou a eterna frase: “Penso, logo
existo”... ele coloca a razão humana como única forma de existência, neste
sentido, Descartes entendeu que ao duvidar, ele estava pensando, e por estar
pensando, necessariamente ele existia. Para descarte, ele só não poderia
duvidar da própria dúvida, pois não fazia sentido algum e neste sentido e
contexto, deduziu sua existência de forma que não haveria controvérsias na
afirmativa...
Ainda neste contexto, Antoine Léonard
Thomas (1732-1785), poeta e crítico literário francês, na Académie Française, em
um ensaio premiado de 1765 em louvor a René Descartes, reformulou o enunciado
da seguinte forma: "Puisque je
doute, je pense; puisque je pense, j'existe" ("Já que eu duvido, eu acho; já que eu penso,
eu existo").
Bom, o que tiramos desta afirmativa e em
relação a nosso assunto em questão, “Interpretação Textual” ou, “Práticas Interpretativas”,
é que, para se sustentar uma verdade, só precisamos provar que a mesma existe e
pela racionalidade, pois ela por si só se reafirma, já uma mentira necessariamente
só poderá existir com a distorção de uma realidade e ou verdade!
A frase formulada por Descartes, que virou
um ícone: “Penso, logo existo”, marca
o pensamento Iluminista, onde a razão humana é a única forma de existência...
Descartes categórica e sabiamente entendeu que ao duvidar, estava pensando, e
por estar pensando, consequentemente, ele existia.
René Descartes (1596-1650), filósofo e
matemático, e assim considerado o fundador da filosofia moderna, em sua busca
pelo “verdadeiro conhecimento”, àquele conceito absoluto e irrefutável da
verdade, e neste sentido, ele passou a duvidar de tudo, inclusive de sua
própria existência, até se deparar com sua dúvida reveladora, daí concluiu que sua
existência poderia ser provado em sua própria dúvida, desta forma ele concluiu e
seus pensamentos se constituiu no que passou a ser a frase primordial de seu
pensamento em relação a existência: “Penso,
logo existo”, e isto é irrefutável e inquestionável, isto de acordo com
seus pensamentos e fica implícito pela condição da verdade sobre o assunto em
questão, a existência...
Outra coisa a considerarmos aqui, é
justamente as questões de falácias, ou seja, a pessoa pode estar enganada no
que defende, e aqui entra em cena as questões cognitivas e volitivas, ou seja, os
enganos; os engodos e as decisões que tomados passeados justamente nestes
engodos e ou em uma verdade. Da mesma forma temos que considerar as questões
sofistas, ou seja, as pessoas ou alguém, pode ter verdadeiramente a intenção de
enganar, de ludibriar para poder atingir algum objetivo, seja este qual for, e
aqui é que entra em cena determinadas ideologias.
Aqui é bom salientarmos também, que de
acordo com Platão em sua dialética, é possível a concepção de algo ou de algum
conceito em dois ou mais, os quais geralmente contrários e complementares, a
exemplo de, ideias e ou pensamentos: bons e ruins; seres humanos: homens e
mulheres; tempo: passado, presente e futuro. É justamente neste contexto que
entra em cena a lógica em relação a algum conceito, na verdade, a lógica está
implícita, quando consideramos que temos que definir algo ou o próprio conceito
em si; e este algo pode ser dividido em dois ou mais conceitos, em geral
contrários ou complementares, que se definem em toda sua extensão de
conhecimento, a exemplo de animal: vertebrado e invertebrado; preto/branco; sol/lua,
etc.
Aqui temos mais uma consideração a
fazer. Diferentemente do que alguns pensam, e ainda hoje, os modelos de análises
argumentativas não é um acordo entre interlocutores, como sugere indiretamente Habermas,
e isto fica claro em seu conceito de “Ética do Discurso”, em que ao fundamentar-se
na teoria da “Ação Comunicativa” racional e intersubjetiva e que quando na escolha
de valores deixa de fora a razão, mas em função de uma suposta razão
comunicativa entre sujeitos que cooperam entre si em busca da verdade, e que
supostamente utiliza-se de normas racionais e validáveis, mas ele mesmo,
Habermas, menospreza por completo a razão, e neste sentido, quando se tira a
razão de um processo comunicativo, questões cognitivas sérias passam a existir,
ou seja, não apenas a interpretação, mas o entendimento passa a ser
comprometido. Vejam o que Habermas diz em relação a razão:
“A razão é calculadora. Ela pode avaliar verdades de fato e relações matemáticas e nada mais. No âmbito da prática, só pode falar de meios. Sobre os fins, ela tem que se calar.”
Habermas (Consciência Moral e Agir Comunicativo, 1989, Págs. 61-62).
Neste sentido,
o “toma lá dá cá” fica implícito,
quando a razão dar lugar a uma suposta razão comunicativa entre sujeitos, mas
que na verdade, a própria verdade fica comprometida em função de um simples
acordo. Ora, um acordo supõe deixar de lado alguns direitos para que se obtenha
um final de questão, conduta ou discussão, o que não necessariamente quer dizer
que a verdade seja ou tenha sido considerada a ponto de fazer a mesma
prevalecer. Um exemplo prático e simples neste sentido, vemos no Direito, por
exemplo, quando em uma ação jurídica, para que não se prolongue mais a ação se
faz um acordo, mas para que se tenha um, alguém ou ambas as partes terão que
abrir mão de algum direito e mesmo que ambos abram mão em função de uma rápida
solução, a verdade é que alguém ou ambos abriram mão de alguns de seus direitos
e está é uma nova realidade e neste sentido se constitui em uma nova verdade,
mas não essencialmente falando, pois a essência, diz respeito aos direitos negados,
caso não fosse, não haveria uma ação judicial, portanto, neste sentido, a
verdade não deixou de existir ou de se transformar em outra verdade
simplesmente, mas a verdade primária foi deixada de lado, para que fosse construída
uma nova verdade, que em relação à primeira é subjetiva, portanto, não é
absoluta como a primeira em toda sua existência e consequentemente em toda sua
essência...
Neste sentido, Perelman diz que há
uma relação estreita entre a qualidade dos espectadores e a qualidade da
argumentação; e isto é lógico, pois a forma como vemos ou entendemos algo, depende
e muito do grau de instrução de quem participa ou assiste a uma retórica. Ainda
neste sentido, Aristóteles pensa um tanto quanto diferente, para ele, quanto
mais científico for um discurso, mais ele afasta-se da retórica, exceto quando
direcionado aos princípios de uma disciplina... o que de certa forma é
controverso o pensamento de Aristóteles, mas não necessariamente, pois há divergências
de opiniões em diversas áreas científicas, embora em alguns casos, não há como
discordar da ciência, o que prevalece o pensamento de Aristóteles...
Neste contexto, de acordo com o
entendimento da Dra. Maysa de Pádua; Doutora em Linguística e Língua Portuguesa
- PUC-MINAS. Pós-doutoranda na Universidade Federal de Ouro Preto - UFOP., a
argumentação existe, mas desde que o discurso não seja reduzida a um cálculo; o
que contraria sabiamente a teoria de Habermas pelo menosprezo que a mesma dá a
razão. Bom, ainda de acordo com Perelman, em se tratando de algo específico, especializado,
principalmente ao tratar de questões Científicas, de Direito ou Religiosas, ou
até mesmo de determinadas ideologias, é imprescindível que se conheça toda a
essência destas áreas, as aspirações que de alguma forma compôs as mesmas, as
regras existentes, dentre outras implicações mais... (Perelman, 1987).
Ao considerarmos tudo isto, concluímos que as questões interpretativas vai além de se defender uma verdade, mas de lidarmos com a perversão e ou distorção da mesma no sentido de se tentar a todo custo defender uma suposta verdade, onde na verdade, uma ideologia escusa, com interesses escusos e geralmente nocivos a toda uma sociedade. E neste sentido, não apenas as falácias, mas os sofismas entram em cena como forma de argumentar para se conseguir atingir determinados objetivos, e aqui é onde mora todo o problema, principalmente em se tratando de questões Bíblicas.
Referências:
René Descartes. Discours de la Méthode / "O Discurso do Método", 1637, Leiden, Holanda
The Edinburgh Review for July, 1890 …
October, 1890 . Leonard
Bohemia, Princess Elisabeth of;
Descartes, René (2007-11-01
Descartes . University of Chicago Press.
ISBN 978-0-226-20444
Cardoso, Flora Rocha. A teoria das
virtudes de Alasdair MacIntyre [manuscrito] / Flora Rocha Cardoso. – 2010.
142f. Orientadora: Telma de Souza Birchal, Dissertação (mestrado) –
Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Filosofia e Ciências
Humanas. 1. MacIntyre, Alasdair C. – Teses. 2. Filosofia – Teses 3. Ética
moderna – Teses.4. Virtude – Teses. I. Birchal, Telma de Souza. II.
Universidade Federal de Minas Gerais. Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas.
III. Título.
Habermas, Jürgen. Consciência Moral e Agir Comunicativo / Jürgen Habermas; tradução de Guido A. de Almeida. – Rio de janeiro: Tempo Brasileiro, 1989. …p. (Biblioteca Tempo Universitário nº. 84. Estudos Alemães). Tradução de: Moralbewusstsein und kommunikatives Handeln. 1. Filosofia 2. Epistemologia – Ciências Sociais. I. Título II. Série. ISBN: 85-2282-0008-6, CDU 165. Ficha catalográfica elaborada pela Equipe de Pesquisa da ORDECC
PAULINELLI, Maysa de Pádua Teixeira.
Retórica, argumentação e discurso em retrospectiva. Linguagem em (Dis)curso –
LemD, Tubarão, SC, v. 14, n. 2, maio/ago. 2014
Considerações a uma Ideologia! – VII
O Tolo Travestido de Intelectual
Por: Rogério Silva
19 de novembro de 2020
https://rogeriorsf.wordpress.com/2020/11/19/consideracoes-a-uma-ideologia-vii/
Boa noite Rogério!
ResponderExcluirApesar de não ter comentado anteriormente neste sentido, quero parabenizá-lo pelo artigo, apesar de ter ficado frustrada com o mesmo. Entendo que você direciona seus artigos em relação ao nível de conhecimento ou discernimento de alguns; uma parte de seus leitores, mas temos que concordar, e seus artigos anteriores mostram isto, que em determinados assuntos, por mais cansativo e enfadonho que seja, algumas vezes e para alguns, mas não podemos dar menos importância que eles merecem e sei que você sabe muito bem disto, por isto minha frustração em relação a este assunto específico, mas não pelo teor do mesmo, neste sentido foi muito bom e esclarecedor, mas por você não ter se aprofundado mais em relação ao assunto em questão, que em meu entender, merecia mais atenção de sua parte, claro que no sentido de explorar mais o assunto. Portanto, fica minha sugestão, um artigo neste sentido de forma mais profunda e principalmente aprofundando-se nas questões sofistas e nas falácias, pois um assunto desta natureza, creio merecer mais. Fora isto, parabéns pelo teor do mesmo, espero que possa satisfazer minhas expectativas.
E como você gosta de dizer: Um abraço e fica com Deus.
Boa noite Patrícia!
ResponderExcluirObrigado por seu comentário.
A amada está certíssima e sinto muito por decepcioná-la. Acontece que desde o início não pretendia me aprofundar mais que isto, apenas dar umas dicas de como se deve tomar cuidado em relação a interpretações, pois os contextos nos dizem mais que nosso olhos podem ver.
Quanto a um artigo neste sentido, ou seja, mais profundo, com certeza é plano, mas não agora, que sabe em um futuro próximo. Quero aqui aproveitar e dizer que desde o princípio, meu interesse, por exemplo, é em meu site pessoal colocar uma tag só para filósofos e estudiosos, a exemplo de Nietzsche, Einstein, Espinoza, dentre muitos outros, mas ainda não tenho condições para fazê-lo, isso necessitaria de muito tempo e não disponho dele agora... Este foi justamente o motivo que me levou a fala sobre temas e não sobre filósofos especificamente. Mas creio em "DEUS" que um dia terei o necessário para tal e inclusive, para me aprofundar mais neste assunto em questão.
Um abraço amada e fica com "DEUS"...